quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

AULA 2

               Viver é acumular experiências. Contudo, muitas delas se tornarão rotineiras e, com o tempo, nós nem sequer nos recordaremos de muitos fatos ocorridos conosco. Por outro lado, existem experiências tão marcantes que fazemos questão de contá-las a outras pessoas ou registrá-las por escrito em algum lugar.
               Como nossa memória não é infalível, e nós também não duramos para sempre, um bom recurso é escrever nossas memórias em um papel ou no computador, ou ainda gravá-las em áudio e/ou vídeo.
               Ao fazermos isso, com a intenção de expor nossa experiência a outras pessoas, estamos produzindo um relato.  Segundo Sérgio Roberto Costa, em seu Dicionário de Gêneros Textuais, o relato é uma “narração não-ficcional escrita ou oral sobre um acontecimento ou fato acontecido”. Quando o relato que fazemos é sobre nós mesmos, podemos denominá-lo autobiográfico (auto = de si mesmo, bios = vida; graphos = escrita).
               Para compreendermos melhor do que trata um relato, façamos uma leitura dos textos abaixo:
Texto 1 :

Texto 2:


Texto 3:


               Ao ler os textos acima, podemos notar que em todos eles uma pessoa relata uma experiência que aconteceu consigo. São todos relatos autobiográficos. No caso dos textos acima, eles têm algo em comum: todos falam da primeira vez em que a pessoa passou por uma determinada experiência. Todos eles foram retirados de uma reportagem da Veja São Paulo que tinha por título A primeira vez a gente nunca esquece.

Narração em 1ª Pessoa
               Se lermos com calma cada texto, notaremos que os verbos (palavras usadas para expressar uma ação ou estado) estão no que chamamos de 1ª pessoa (eu, nós). Veja abaixo:
(eu) Larguei em quinto e (eu) comecei a competição pressionando.”
               A narração (ato de contar algo que aconteceu) em primeira pessoa ocorre quando estamos falando ou escrevendo sobre nós mesmos.
Proposta de Redação
               O título da reportagem da Veja São Paulo, A primeira vez a gente nunca esquece, constata um grande verdade. Por exemplo, você se lembra da primeira vez que foi à escola? Ou do primeiro emprego que teve? Ou ainda do primeiro beijo que deu?
               A primeira vez que fazemos alguma coisa marca a nossa vida de tal jeito que basta fecharmos os olhos e a nossa memória se encarrega de fazer as lembranças saltarem na nossa frente... para nossa tristeza ou alegria.
               Procure se lembrar sobre a primeira vez que você passou por uma determinada experiência e escreva um texto no qual você relate como isso ocorreu. Tente se recordar do lugar, das pessoas, de como se sentiu...

Dicas de redação:
·      não se esqueça de dar um título a sua redação. Por exemplo, a primeira vez que fui à escola;
·      lembre-se do espaço inicial de cada parágrafo;
·      observe o alinhamento do texto no papel, vá até o fim da linha e, com exceção da primeira linha do parágrafo, busque sempre começar próximo à margem;
·      Não se esqueça da letra maiúscula em início de parágrafo e após o ponto.

Quais são os passos que devo seguir ao fazer uma redação?
Primeiro passo: pense sobre o que você vai escrever.
Segundo passo: escreva sobre o que você pensou.
Terceiro passo: leia o que você escreveu.
Quarto passo: corrija os erros que você percebeu ao ler sua redação.
Quinto passo: Reescreva o texto quantas vezes você julgar necessário.



domingo, 13 de fevereiro de 2011

AULA 1

Texto: Lerdeza
Autor: Luís Fernando Veríssimo
Gênero: Conto

Antes da ler:
-Você já leu, ouviu ou contou uma história? Gosta de contar histórias ou ouvir/ler histórias?
- Já ouviu ou leu alguma do Luís Fernando Veríssimo?
- Ao ouvir o nome do conto (título), você imagina como pode ser a história?

Lerdeza
Luís Fernando Veríssimo

A frase que o Everton mais ouvia da mãe era "levanta e vai buscar", geralmente seguida de um epíteto, como "seu preguiçoso" ou, pior, "lerdeza". Porque o que o Everton mais fazia, atirado no sofá na frente da TV na sua posição de costume (que a mãe chamava de "estrapaxado"), era pedir para lhe trazerem coisas. Uma Coca. Uns salgadinhos...
- Levanta e vai buscar!
- Pô, mãe.
- Lerdeza!
O Everton já estava com quinze anos e era uma luta convencê-lo a sair do sofá e ir fazer o que os garotos de quinze anos fazem. Correr. Jogar bola. Namorar. Ou pelo menos ir buscar sua própria Coca.
- Esse menino um dia ainda vai se fundir com o sofá...
Everton não queria outra coisa. Ser um homem-sofá. Um estofado humano, alimentado sem precisar sair do lugar. E sem tirar os olhos da TV. E como era filho único, e insistente, sempre conseguia que lhe trouxessem o que pedia. Quando não era a mãe, sob protestos ("Toma, lerdeza, mas é a última vez") era Marineide, a empregada de vinte e poucos anos cujo decote era a única coisa que fazia o Everton desviar os olhos da TV, e assim mesmo por poucos segundos.
***
Um dia, estrapaxado no sofá, o Everton se deu conta de que estava sozinho em casa. A mãe tinha saído, o pai estava no trabalho, a Marineide de folga, e ele sem ninguém para lhe trazer uma Coca, uns chips de batata e uns Bis. Levantar-se e ir buscar estava fora de questão.
Fechou os olhos e concentrou-se. Concentrou-se com força. Depois de alguns minutos, ouviu ruídos vindo da cozinha. A geladeira abrindo e fechando. Uma porta de armário abrindo e fechando. Depois silêncio. Quando abriu os olhos, a Coca, os chips e os Bis pairavam no ar, à sua frente. Ele só precisou estender a mão.
No dia seguinte, Everton testou seu poder recém-descoberto na Marineide, que até hoje não sabe como a sua blusa desabotoou sozinha e seu soutien simplesmente voou longe daquele jeito, e logo na frente do menino. Everton também acendeu a TV e mudou de canais sem precisar usar o controle remoto, e fez um vaso voar pela sala só com a força do seu pensamento. Apagou a TV e ficou, atirado no sofá, refletindo sobre o que significava aquilo. Ele era um fenômeno. Tinha um poder único - fazia as coisas acontecerem apenas pela sua vontade. Contaria aos pais, claro. Eles poderiam ganhar dinheiro com seu poder. O pai saberia como. Ele se transformaria numa celebridade. Cientistas do mundo inteiro o procurariam, sua capacidade extraordinária seria usada em benefício da humanidade. No combate ao crime, por exemplo. Nas comunicações. Na medicina a distância.
***
E se aquilo fosse, de alguma forma, um poder religioso? Até onde a revelação do seu dom milagroso seria um sinal de que ele tinha uma missão a cumprir na Terra? Até onde aquilo o levaria? Fosse o que fosse, uma coisa era certa. Ele teria que sair do sofá.
***
- Mãe.
- Ahn?
- Eu quero daquelas coisinhas de queijo. E uma Coca.
- Levanta e vai buscar.
- Pô, mãe.
- Tá bem. Mas esta é a última vez.
E já a caminho da cozinha:
- Lerdeza!

Recontando a história:
Ao lermos a história podemos perceber que, se quisermos, podemos dividi-la em partes, coisas que acontecem, e que fazem a história "progredir".
1 - O narrador (aquele que conta a história) apresenta a personagem principal. Everton é um garoto de 15 que não quer sair do sofá, dependendo de sua mãe e da empregada.
2 - Num dia, quando está sozinho em casa, Everton estava com fome, mas não queria se levantar do sofá. Concentra-se e, de repente, vê as coisas que desejava comer pairarem na sua frente.
3 - No outro dia, Everton testa seu poder e, após testá-lo, reflete sobre as vantagens do seu poder.
4 - Enquanto reflete, Everton chega à conclusão de que seu poder poderia ser um dom de Deus, dado para que ele usasse em prol da humanidade, o que o faria ter que sair do sofá.
5 - Everton decide continuar pedindo as coisas a sua mãe.
Vamos pensar um pouquinho no significado de algumas palavras. Experimente descobrir o que elas querem dizer:
  • epíteto;
  • estrapaxado;
  • pairavam (de "pairar");
  •  fundir.
Observação: Antes de consultar o dicionário sobre o significado das palavras acima, releia o texto cuidadosamente e tente "adivinhar" o significado das palavras atentando para as outras palavras que estão junto delas e para o que o narrador quer nos contar.

Refletindo um pouco mais sobre o texto:
- Como Everton costumava passar os seus dias? Que  trecho do início do texto mostra o que Everton quer para sua vida? Copie-o.
- Por que Everton descobre seus poderes?
- No final da história, o que Everton fez com seus poderes?

Desafio de Linguagem:
Observe os dois parágrafos abaixo:
a. Contaria aos pais, claro. Eles poderiam ganhar dinheiro com seu poder. O pai saberia como. Ele se transformaria numa celebridade.
b. Contaria aos pais, claro. Eles poderiam ganhar dinheiro com seu poder. O pai saberia como ele se transformaria numa celebridade.
1. Em relação à pontuação, o que há de diferente nos dois parágrafos?
2. O que o pai sabe em cada parágrafo?


Pensando sobre as palavras:
Perceba que as palavras terminadas em –oso atribuem qualidades ou defeitos a alguém ou alguma coisa e que se tirarmos o final delas teremos uma palavra que dá nome a algo.
No texto que lemos, encontramos as seguintes palavras terminadas em -oso
            preguiçoso à preguiça ("seu preguiçoso");
            religioso à religião ("poder religioso");
            milagroso à milagre ("dom milagroso").
Observe as palavras abaixo e retire delas o final -oso. Descubra que outras palavras surgem ao retirar este final:
cremoso          charmoso          gostoso          amoroso          bondoso         saboroso          cheiroso
cuidadoso       ardoroso             doloroso         horroroso         espantoso      maravillhoso      misterioso